segunda-feira, 6 de julho de 2009

AUMENTANDO O CONHECIMENTO!!


Carlos Ramirez de Rezende e Silva
Professor do Departamento de Agricultura da Universidade Federal de Lavras-UFLA

Dentro do contexto de vida moderna, com acentuada concentração de população nos centros urbanos, surgiu um novo tipo de agricultor, nem sempre ligado ao setor, proprietário de sítios, chácaras, áreas de lazer em condomínios. Este, coloca sempre como prioridade, os projetos de paisagismo e de implantação de um pomar doméstico, porém, é comum incorrer em insucessos pela falta de informações técnicas sobre o assunto.

Desta forma, antes de se realizar o plantio, deve-se fazer um estudo prévio, no qual considera-se, resumidamente, os tópicos a seguir.

Dimensão do pomar

Depende do tamanho da propriedade e do volume de produção desejado. Quase sempre, há uma tendência em exagerar no tamanho, ocorrendo ainda desequilíbrio entre espécies e variedades plantadas. No geral, um pomar doméstico bem diversificado poderia ocupar de 3000 m² (0,3 ha) a 10000 m² (1,0 ha); não se trata de um padrão, podendo variar para mais ou menos.

Em uma mesma área é preferível se ter um menor número de plantas, porém, bem arejadas e com boa insolação. É comum o plantio muito próximo, levando ao sombreamento das plantas, pouca luminosidade e arejamento e, em decorrência, aumento na incidência de doenças, pragas e menor produção.

Escolha da área

A área deverá apresentar entre outras, as seguintes características:
• ser próxima da sede da propriedade
• de fácil acesso porém, deve-se evitar a profundidade de estradas principais
• com boa insolação, não sujeita a geadas e ventos fortes, preferencialmente com declividade baixa (5% ou menos)
• solos bem drenados, sem encharcamento, com boa profundidade; quando possível, evitar solos muito argilosos ou muito arenosos.
• em caso de irrigação, verificar a disponibilidade de água.

Escolha de espécies e variedades

As frutíferas se dividem em tropicais (climas quentes, temperaturas superiores a 22ºC), subtropicais (climas mais amenos) e temperadas (climas frios). Apesar do desenvolvimento de novas técnicas de cultivo e de variedades com adaptação em diferentes condições, deve-se no caso de pomar doméstico, considerar as exigências de cada uma.

Em regiões como o sul de Minas Gerais (clima subtropical a temperado), as laranjeiras, tangerineiras, limoeiros, abacateiros, caquizeiros e pessegueiros, entre outras, produzem bem. Espécies como o mamoeiro, mangueira e maracujazeiro, embora possam produzir em algumas épocas do ano, sofrem prejuízos principalmente em qualidade do fruto.

Aquisição de mudas

Se você pretende ter um pomar que possa produzir bem durante 20 anos ou mais, o passo inicial mais importante se refere à qualidade das mudas. Evite comprar mudas de "ambulantes"; procure junto a técnicos da área endereços de viveiristas registrados e idôneos.

Cuidados no preparo da terra

Coletar inicialmente uma amostra do solo para ser analisada, verificando-se a necessidade de se aplicar calcário para corrigir a acidez.

O preparo se resume em limpeza, destoca, aração, calagem e gradagens, no caso de se utilizar máquinas agrícolas. Em áreas muito declivosas, ou mesmo quando não se dispõe de máquinas, pode-se simplesmente fazer a limpeza e abertura de covas.

Este é também o momento de se localizar os formigueiros na área ou proximidades, fazendo-se o controle, uma vez que as formigas são as pragas mais nocivas no início de um pomar.

As covas poderão ter 50 x 50 x 50 cm e, os sulcos pelo menos 40 cm de profundidade. A adubação de plantio dependerá da análise do solo, podendo-se recomendar, de uma maneira geral, por cova ou no sulco:

Adubação orgânica:

20 a 30 litros de esterco de curral curtido, ou
10 a 15 litros de esterco de galinha curtido, ou
20 litros de composto orgânico.

Adubação química:

500 gramas de superfosfato simples
150 gramas de cloreto de potássio
10 gramas de bórax (ou ácido bórico)
10 gramas de sulfato de zinco

Em solos que apresentaram acidez, além da calagem aplicada em área total, pode-se aplicar de 200 a 300 gramas de calcário dolomítico no fundo de cada cova ou sulco.

Dependendo da disponibilidade de tempo e mão de obra, pode-se ter cuidados na disposição dos fertilizantes como mostra o esquema 1. Entretanto em termos práticos poderia se misturar os fertilizantes com a terra e encher a cova ou sulco; o calcário deve ser aplicado sempre no fundo.

Para o maracujazeiro as covas seriam de 30 x 30 x 30 cm e para mamoeiro 50 x 30 x 30 cm, com 3 mudas/cova, utilizando em ambos os casos, apenas a metade da adubação recomendada anteriormente.

Faça o preparo das covas ou sulcos com pelo menos 45 dias de antecedência, colocando logo após o enchimento uma estaca de bambu ou madeira no centro. Os espaçamentos vão depender principalmente do porte da espécie, como por exemplo:

Porte pequeno/médio: 5 a 6 metros entre linhas
4 a 5 metros entre plantas
Porte alto: 10 a 12 metros entre linhas
8 a 10 metros entre plantas

Deve-se procurar facilitar a marcação do pomar através da escolha de um espaçamento básico, em torno do qual se faz as variações necessárias.

Um espaçamento básico de 5 metros entre linhas e 4 metros entre plantas poderá se transformar em 5 x 8 ou 10 x 8, saltando-se uma cova ou uma cova e uma linha.

Nesta fase de preparo da área deve-se verificar a necessidade do plantio de quebra-ventos que poderia ser a bananeira ou plantas como o bambu, calabura, grevílea e outras.

Também os limites do pomar poderiam ser protegidos além da cerca de arame farpado com alguma cerca viva, utilizando o limoeiro trifoliata, sansão do campo, e mesmo ornamentais como o hibíscus.

Cuidados na fase de plantio

Nesta fase deve-se considerar cuidados como:
• transporte e maneje as mudas com cuidado, evitando quebrar o torrão, quando possuírem.
• as fruteiras tropicais e subtropicais são plantadas no período de chuvas; no caso do sul de Minas Gerais entre dezembro e fevereiro. As fruteiras temperadas (videira, macieira, pessegueiro), principalmente quando não têm torrão, são plantadas em julho-agosto.
• agrupar as espécies e variedades de acordo com sua classificação (tropicais, subtropicais e temperadas), época de produção e altura da planta; as temperadas devem ficar na parte mais baixa da área. Limoeiros e videiras o mais próximo possível da sede.
• posicionamento da muda na cova ou sulco: com raríssimas exceções o plantio das mudas deve ser bem superficial (5 cm acima do nível do solo). No esquema 2 está representado o plantio de mudas em torrão.






• mudas em raiz nua exigem mais cuidados; devem ser plantadas com a cova muito molhada, quase um "barro"; vai enchendo a cova aos poucos, procurando-se distribuir bem as raízes. O plantio também é superficial com o colo da muda ficando a 5 cm acima do nível do solo.
• terminada a operação de plantio faz-se uma bacia (80 cm de diâmetro) ao redor da muda, usando a terra do subsolo. Nesta, aplica-se 30 a 40 litros de água e faz-se uma cobertura morta, com capim seco, palha de arroz, bagaço de cana ou outro material disponível. Neste momento poderia-se colocar uma estaca de bambu ou madeira para servir como tutor.
• aos 45 e 90 dias pós plantio, fazer as primeiras adubações em cobertura, utilizando-se 50 gramas de sulfato de amônio por planta. Adubar com o solo úmido, colocando o adubo a 40 cm do caule da muda, em círculo.
• durante os primeiros seis meses após o plantio pode-se colocar uma cultura intercalar como o feijão entre as ruas; cultura de porte maior como o milho só obedecendo-se 1,5 metros de cada lado da planta.

Tratos culturais

Após o plantio é fundamental a realização de tratos e práticas culturais que visam dar ao pomar uma vida longa, com grande produção e frutos de boa qualidade. De uma maneira geral, os 3 a 4 primeiros anos são considerados de formação. Posteriormente, entraria na fase de produção embora, as mudas enxertadas possam produzir 6 meses após plantadas.

Para a correta execução destas atividades, deve-se ter uma orientação do técnico que deverá traçar um esquema para todo o ano.

Entre as atividades a serem realizadas na condução do pomar, temos:

• irrigação: apesar do plantio em período chuvoso, a ocorrência de veranicos obriga a irrigação uma vez por semana, nos primeiros 45 dias pós-plantio, colocando-se 30 litros de água por muda por vez.
• capinas: deve-se manter limpa a rua de plantio ou, fazer o coroamento manual com enxada em torno das plantas (projeção da copa). Entre ruas o mato deve ser roçado ou ceifado. Poderá se utilizar herbicidas desde que se siga as recomendações específicas.
• desbrotas: a porção do caule entre o colo da planta situado ao nível do solo até a abertura da copa (40 a 50 cm do solo) deve ser desbrotada periodicamente.
• podas: vários tipos de podas são recomendados como as de formação, frutificação e limpeza. Quase sempre são realizadas no período de julho a agosto de cada ano.
• desbaste de frutos: nos dois primeiros anos não se deve deixar muitos frutos, ou seja, apenas uma amostra entre 10 e 15 frutos por planta. Algumas variedades, já na fase de produção, necessitam de desbaste ou raleio de frutos, para melhorar o tamanho e a qualidade em geral.
• adubação: todos os anos deve-se retirar amostras de solo em duas posições (próximo das plantas e entre ruas), a 0-20 cm de profundidade. Os resultados vão direcionar as adubações incluindo a calagem para o pomar. Estas, são realizadas pelo menos três vezes ao ano, no início, meio e final do período chuvoso.
• controle de doenças e pragas: o número de doenças e pragas que atacam as fruteiras é muito grande, necessitando-se fazer vistorias periódicas. O controle só é possível seguindo-se corretamente as orientações técnicas. O aparecimento de doenças e pragas poderá ser reduzido e, como conseqüência reduzir o uso de defensivos se mantiver o pomar limpo e bem adubado.
• práticas especiais: um grande número de práticas especiais poderão ser executadas com a finalidade de melhorar a produção e qualidade dos frutos e até mesmo produzir em épocas de entressafra; envolvem ensacamento de frutos, uso de reguladores de crescimento para aumentar o tamanho, forçar brotações e florescimento, etc.

Sugestões de espécies e variedades

Espécies cítricas
• Laranjeiras: Parnásia, Campista, Serra D’água (Ilha), Seleta, Baia, Baianinha, Pera Rio, Valência, Lima Verde ou Tardia.
• Tangerineiras: Cravo, Ponkan, Dancy
• Mexeriqueira: Rio
• Tangoreira: Murcote
• Limas ácidas (limões): Tahiti e Galego
• Limas doces: Lima da Pérsia e de Umbigo
• Cidreira

Este grupo deve representar 40% da área do pomar, com destaque para as laranjeiras tardias (Pera Rio, Natal e Valência).

Espécies Temperadas e Subtropicais
• Pessegueiro: Diamante, Biuti, Talismã, Ouro Mel, Aurora, Tropical, Jóia.
• Pereiras: Pera D’água, Smith, Tenra, Triunfo.
• Macieiras: Brasil, Rainha, Ana, Gala.
• Nespereira: Mizuho e Precoce de Itaquera.
• Figueira: Roxo de Valinhos.
• Marmeleiro: Portugal.
• Ameixeiras: Carmesin, Kelsey Paulista, Gema de Ouro, Centenária e Januária.
• Abacateiro: Pollock (B), Geada (B), Simmonds (A) O precoces; Fortuna (A), Collinson (A) e Quintal (B) - meia estação; Ouro Verde (B), Prince (B), Margarida (B) e Wagner (A) - tardias.
• Caquizeiros: Fuyu, Taubaté, Rama Forte e Jirô.
• Macadâmias: IAC 4-20 e IAC 5-10.
• Goiabeiras: IAC-4, Ogawa nº 3, Kumagai, Pedro Sato, Paluma.
• Videiras: niagara branca e niagara rosada.

Estas espécies, principalmente as temperadas, devem ser escolhidas de acordo com sua exigência em frio (número de horas com temperaturas de 7,2ºC ou menor); aquelas muito exigentes em frio só se adaptam bem em regiões frias do sul do Brasil. Algumas frutíferas também exigem intercalar mais de uma variedade para que possam produzir bem, como acontece com abacateiros, macieiras e caquizeiro.

Espécies tropicais
Abacaxizeiros: Pérola (mais doce) e Smooth Cayenne ou Caiena ou Liso (mais ácido).
• Bananeiras: Prata comum, Prata Anã, Mysore, Nanicão, Marmelo e Terra.
• Mamoeiros: Sunrise Solo (papaya ou amazônia) Tainung 1 e 2 (mamão baiano) e tipos comuns (polpa amarela).
• Mangueiras: Bourbon, Coração de Boi e Espada - precoces; Haden 2 H e Tommy Atkins, Santa Cruz - meia estação; Keitt, Pavão, Ouro, Ubá - tardias.
• Maracujazeiros: Amarelo (suco), Roxo (suco), maracujá-doce (consumo in natura).

Em regiões de clima mais ameno (inverno frio e seco) as espécies tropicais sofrem algumas restrições, aumentando o ciclo, produzindo menos e frutos de pior sabor.

Outras espécies, nativas, subexploradas

De acordo com as preferências, existe uma grande relação de frutíferas neste grupo, que poderão completar o pomar. Muitas são excelentes para a produção de sucos, sorvetes, geléias, doces, etc., como por exemplo: abieiro, acerola, araçazeiro, cabeludinha, cainiteiro, cajá-manga, caramboleira, gravioleira, grumixameira, jabuticabeira, jaqueira, kiwizeiro, lichieira, nogueira pecã, pinha, pitangueira, pitombeira, romãzeira, sapotizeiro, sirigueleira, tamarindeiro, uvaieira.

Sugestões para formação de um pomar

As sugestões a seguir podem ser utilizadas para a formação de um pomar doméstico em área de 5.000 m² (0,5 ha):






Observações:
- Considerando-se um espaçamento básico de 5 m entre ruas e 4 m entre plantas, com variações para 5 x 8 m e 10 x 8 m, dependendo do porte da espécie; desta forma a marcação e estética do pomar ficam facilitadas.
- Sugestões de espaçamento para:
bananeira: 4 m entre ruas e 3 m entre covas
maracujazeiro: 3 m entre ruas e 4 m entre plantas
abacaxizeiros: entre as outras espécies de frutíferas, dentro da rua de plantio a 30-40 cm uma muda da outra.





Fonte: Prof. Dr. Carlos Ramirez de Rezende e Silva - UFLA EM http://www.todafruta.com.br/todafruta/mostra_conteudo.asp?conteudo=8026

Nenhum comentário:

Postar um comentário